A permanência das Estruturas

Autor: SubVersiva


Cadastrado em 18/04/2021
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Data: 2021
Tipo de obra: Colagem
Técnica: colagem analógica sobre papel cartão, 150g
Dimensões: A 0,30 x L 0,41
Localização: Acervo Pessoal
Cor primária: roxo
Cor secundária: Descrição: O colonização européia retirou a força, milhões de corpos negros do continente Africano a fim de obter lucro. Foram milhões de pessoas, entre homens, mulheres e crianças, que foram retiradas de seu território e trazidas para as Américas, para exercer trabalho escravo. Com isso, muitos deles perderam sua identidade e passaram a ser escravizados.
SIM, ES-CRA-VI-ZA-DOS, DEIXO BEM TANGÍVEL AQUI, QUE ESSA É A FORMA CORRETA DE SE DIZER/ESCREVER!
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(A palavra “escravo”, é um substantivo de modo que dá a ideia de que a pessoa em situação de escravidão está nesta situação por sua natureza (o que não foi o caso dessas pessoas, sendo que, segundo registros, muitas delas eram reis/rainhas, príncipes, princesas, etc., antes de serem retiradas de seu território), enquanto que "escravizado", sendo um adjetivo, descreve a situação de alguém que foi submetido ao regime da escravidão, logo o termo correto a ser utilizado para com essas pessoas. APRENDAM!
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Se pensar que, ao longo da história do Brasil, foram mais de 388 anos de escravização desses corpos, e que, a expectativa de vida, de uma pessoa negra escravizada na época era de, em média, 35,5 anos de idade, efetuo aqui, uma conta rápida: se pegarmos 388 e dividirmos por 35,5 , obtemos um resultado de 10,9… Onde eu quero chegar com essa conta? Com isso, quero atestar que, ao longo da escravatura em nosso país, cerca de 10,9 gerações inteiras desses negros/as, nasceram, cresceram, “viveram” e morreram, na condição de escravizados! Dá para imaginar o tamanho da ferida da qual, o colonialismo imprimiu em nossa história, através do racismo ao longo de todas essas gerações? E vocês ainda querem discutir se o racismo é, ou não, estrutural?
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Pois bem, o racismo está em todas as relações cotidianas hoje vividas em nossa sociedade. Vale ressaltar que, essa é uma ferida (ainda) aberta, nunca tratada e que por vezes sangra. 
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O racismo não seria diferente dentro da igreja católica, a mesma da qual, foi responsável pelo massacre de povos originários, bem como, os povos da diáspora, do então recém “descoberto”, Brasil. Em um país onde 56% da população se declara negra (preta ou parda), segundo o IBGE, a Pastoral Afro-Brasileira da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), estima que apenas 2,7% dos padres sejam negros. Isso quer dizer que, dos 14 mil padres no Brasil, apenas 380 são negros. Já autoridades maiores da Igreja, como cardeais, bispos e arcebispos, dentre eles, os negros somam somente 7,6%, ou seja, apenas 37 de 483, são negros. Apenas 3 arcebispos são negros, sendo que, não há nenhum cardeal negro no Brasil. A baixa representatividade negra dentro da Igreja, fica evidente quando comparada a quantidade de sacerdotes e de fiéis negros. No Brasil, segundo o censo do IBGE de 2010, católicos somam 64,6% da população. Dentre eles, metade são negros.
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Essa pesquisa me levou ao padre Geraldo Natalino, quando em 2010 foi selecionado para ser professor na Comissão de Cultura Religiosa da unidade PUC no Rio de Janeiro. Mas padre Gegê (como é conhecido por todos), nunca assumiu o cargo e alega ter sido impedido por racismo. Dez anos depois de ser impedido de assumir o cargo na universidade, o padre contou em texto publicado em redes sociais, do racismo de que foi alvo na Igreja ao longo de 26 anos.
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Fico pensando aqui, quais as inúmeras personificações que o racismo é capaz de obter. Não é de se espantar que para muitos (quase todos) Jesus, teria uma pele branca, cabelos louros e olhos azuis, como vemos muito por aí. A serviço de quem está toda essa imagética, senão puramente, do colonialismo e das raízes do cristianismo Europeu?
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Nessa obra, recrio a A Última Ceia, pintura famosa de Leonardo da Vinci (1495–1498), e reflito essa dinâmica tão atual (e colonial), que seria basicamente, de quem pode ou não pode, sentar-se a mesa. Na obra, não há a presença de Jesus, e essa é uma provocação, pois ao meu ver, Jesus Cristo, aquele mesmo que andava com ladrões, prostitutas, e que multiplicou cinco pães e dois peixes, para alimentar uma população faminta, não compactuaria com tais tratamentos, a ponto exercer dominação moral sobre o outro, oprimir ou até mesmo, submeter (alguém) à condição de escravizado. 
Eu realmente prefiro não colocá-lo nessa condição de sujo e colonizador. 
Mas talvez ele esteja nessa obra, mas com a personificação de um menino negro e escravizado, por quê não? Não há quem diga que Ele voltaria e viria com uma personificação pobre de modo que não o reconheceriam…?
Deixo com vocês o mistério. 
Obrigada!

Fotos da obra

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